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Carro elétrico e a biocombustível: seminário da ANP aponta soluções para o futuro

Publicado em 27/02/2019 por Redação

É possível conjugar biocombustíveis e eletricidade como fontes de energia para os veículos brasileiros? Essa foi uma das grandes discussões do seminário Futuro da Matriz Veicular no Brasil, realizado pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) nos dias 20 e 21 de fevereiro, no Hotel Windsor Flórida, no Rio de Janeiro.

Na abertura do evento, o diretor-geral da ANP, Décio Oddone, destacou a importância do debate. “Cada época tem seus desafios. Os nossos estão entre os maiores que a indústria de energia já viveu. No mundo, estamos tentando nos desvencilhar dos combustíveis fósseis e caminhar para uma economia de baixo carbono. No Brasil, vivemos um momento de abertura nos setores de gás e elétrico e a retomada dos biocombustíveis, além do desafio da eletrificação. O objetivo deste seminário é juntar as partes interessadas no tema e produzir algo que possa contribuir com a política energética nacional”, afirmou.

Estiveram presentes especialistas e empresas de diversas áreas, incluindo o presidente da Raízen (licenciada da marca Shell no Brasil), Luis Henrique Guimarães, e Marcelo Araujo, presidente da Ipiranga, empresas associadas da Plural (Associação das Distribuidoras de Combustíveis, Lubrificantes, Logística e Conveniência). Eles participaram da mesa de debates “Pegada de Carbono: Biocombustíveis x Veículo Elétrico – o que é efetivamente melhor considerando as particularidades do Brasil?”.

De acordo com Guimarães (foto), a Raízen atua nas mais diferentes vertentes da cadeia de energia. A empresa é grande produtora de etanol – serão produzidos 15 milhões de metros cúbicos de etanol na safra que termina em 31 de março. A Raízen também atua na área de energia elétrica, gerando bioeletricidade a partir de biomassa, e, em breve, a empresa terá a primeira planta de biogás, a partir da vinhaça, usando todos os componentes da cana-de-açúcar. Há também a distribuição de combustíveis. Recentemente, a Raízen entrou na Argentina, com 650 postos da marca Shell – no país também haverá refino, um novo desafio para a companhia.  

“Comparando com outros países, o Brasil não tem um problema grave de poluição automotiva. Outra questão é a segurança energética. Vários países são importadores dos produtos que consomem, seja petróleo, seja energia elétrica. O Brasil não tem esse problema, somos grandes produtores e exportadores de petróleo, com déficit de refino, uma das discussões do momento. Também nos destacamos no setor de  biocombustível, área que teve anos difíceis por políticas de preços impostas à gasolina que não permitiram ao etanol se desenvolver. Com o advento do Renovabio, há uma perspectiva de crescimento muito grande para os biocombustíveis – provavelmente teremos a chance de retomar a liderança mundial na produção, que perdemos para os Estados Unidos”, ressaltou o presidente da Raízen.

Para Guimarães, o Brasil enfrenta desafios de custos, de produtividade e de onde deve ser alocado o capital da sociedade. Segundo ele, incentivar de maneira errada qualquer das energias, seja biocombustível, seja fóssil, ou elétrico puro, é um erro. A melhor solução para qualquer mercado ou país é a competição. Ganha quem tiver mais produtividade e escala. A prioridade do Brasil hoje é voltar a crescer e a produzir, criando infraestruturas de mobilidade.

“Nós somos o único país que tem o luxo de possuir uma infraestrutura própria e pronta – às vezes, depreciada em algumas regiões – a de biocombustíveis. Mais de 40 mil revendedores que trabalham tão bem esse mercado têm capacidade de vender etanol hidratado, etanol misturado com gasolina e biodiesel misturado com diesel. Nenhum país do mundo tem a tecnologia Flex que, agora conectada ao elétrico – no híbrido em várias marcas que estão aí no mercado – tem a capacidade de alavancar ambas as tecnologias”, destacou o presidente da Raízen.

Segundo Guimarães, uma fonte de energia que ainda não é muito conhecida no Brasil, mas já é considerada em outros países, é o hidrogênio – e o etanol pode ser convertido em hidrogênio no próprio veículo. “O Brasil é privilegiado. Em nenhum país do mundo você chega em posto de combustíveis e escolhe o que quer fazer, baseado no preço ou orientação ambiental. Aqui a gente escolhe se abastece com etanol hidratado, gasolina ou um blend dos dois. Onde eu quero chegar? Temos que fazer o país crescer mais em biocombustíveis, independente da discussão do veículo elétrico ou não elétrico. Essa é uma fortaleza, uma vantagem comparativa do Brasil, não podemos entregar essa liderança para outros países. O Brasil não pode cair na tentação, desculpe a palavra, de vira-lata, a gente tem vergonha do que a gente é bom, e a gente é bom para caramba em biocombustíveis e agricultura. Por outro lado, temos um déficit fiscal enorme, precisamos acabar com todo o tipo de distorção que não leve o mercado a ser um mercado como tem que ser”, ressaltou Guimarães.

Consumo de biocombustíveis deve crescer significativamente

Marcelo Araujo (foto), presidente da Ipiranga, destacou que a empresa vende de 6,5 a 7 milhões de metros cúbicos de biocombustíveis no Brasil, e faz um 1 milhão e meio de abastecimentos todos os dias no país inteiro.  Segundo ele, o petróleo tem um peso decisivo na matriz energética brasileira, com 36% da oferta interna de energia, basicamente para o setor de transporte, uma proporção bastante acima da média mundial. Nesse cenário, os combustíveis líquidos tendem a ter ainda uma sobrevida longa no Brasil, com os biocombustíveis apresentando crescimento muito significativo. Dados da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) sugerem um crescimento de 70% a 80% no consumo de biocombustíveis no Brasil nos próximos 10 anos.

“Há caminhos que apontam para biocombustíveis e biocombustíveis gerando eletrificação nos veículos híbridos, mas ainda haverá a predominância por muitos anos de combustíveis líquidos no Brasil. Há certo consenso de que em grandes centros urbanos – cujo ar tende a ser mais poluído – é onde deveríamos privilegiar a introdução da eletrificação mais completa, com veículos leves ou transporte urbano”, explicou o presidente da Ipiranga.

De acordo com Araujo, o Brasil deve continuar, e a Ipiranga vai fazer parte desse processo, desenvolvendo a tecnologia Flex e híbrida Flex, porque é onde a empresa acredita que está a principal fonte de riqueza, e onde o país encontrará seu caminho e identidade para o futuro. Por isso mesmo, a empresa olha com preocupação os poucos investimentos realizados no setor de biocombustíveis nos últimos anos.

“A capacidade de produção de biocombustíveis no Brasil está muito próxima da estagnação. Precisamos estimular o aumento da capacidade de produção, e também o desenvolvimento de tecnologia na produção e uso do produto, com boa qualidade e eficiência. Paralelamente a isso, o país vai ganhando tempo para investir em novas fontes de energia, como eólica e solar. O Brasil tem uma posição privilegiada nesse jogo energético global, pela qualidade de sua matriz e pela solução diferenciada de biocombustíveis que oferece ao mundo. Temos tempo de fazer a transição, mas é importante que a gente não pare de investir nessa direção”, destacou Araujo.

Segundo o presidente da Ipiranga, a empresa está trabalhando com um cenário onde a demanda por combustíveis líquidos crescerá no mínimo até 2045. Portanto, os motores à combustão vão coexistir com os motores híbridos e puramente elétricos ainda por muitos anos, até porque os desafios para eletrificação automotiva ainda são grandes, como observou:

“Os desafios são intrínsecos à própria tecnologia, como autonomia, velocidade de recarga, que é decisiva na adoção pelo consumidor. Uma coisa é carregar o veículo à noite, quando você está em casa, a outra é quando está em trânsito. Há os desafios de custo também. A operação de um carro elétrico já é 60% do custo de uma operação de um carro à combustão, por outro lado, o investimento é muito maior. Há uma questão geopolítica complicadíssima da produção de lítio, cobalto e baterias, não é um assunto menor, basta a gente lembrar o que foi a produção do petróleo no século XX, e todas as transformações que acarretou. Não temos produção em larga escala de lítio, nem de outros minerais, nem de baterias em larga escala. Não podemos acordar daqui a 20, 30 anos completamente dependentes de um novo ecossistema energético do qual não fazemos parte. A sociedade vai precisar fazer escolhas, e as escolhas se dão muitas vezes por diretrizes tributárias e planos de incentivo”, ressaltou.

Para Leonardo Gadotti (à direita), presidente da Plural, é momento apropriado para discutir as questões levantadas no seminário O Futuro da Matriz Veicular no Brasil. “As discussões foram muito boas, envolvendo pessoas que realmente estão participando das transformações na indústria de energia. A mensagem que ficou do seminário é que as tecnologias diferentes podem conviver, é importante o país se posicionar nesse cenário”, frisou Gadotti.

Fotos do evento: Marcus Almeida / Divulgação ANP

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