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Menos vulnerável a fraudes, entenda como a nova gasolina impacta a indústria automotiva

Publicado em 14/08/2020 por Marcellus Leitão

As novas normas da Agência Nacional do Petróleo (ANP) para a gasolina brasileira já passam a valer, desde o dia 03 de agosto, nos postos de abastecimentos de todo o país. A nova densidade mínima estabelecida pelo órgão regulador agrada a indústria automotiva, que reclamava da dificuldade de compatibilizar a regulagem dos motores às variações dos combustíveis brasileiros.

Além disso, a nova formulação é uma importante aliada no combate à adulteração do produto. Para falar sobre esse assunto, que afeta diretamente você, consumidor, o Combustível Legal conversou com Ricardo Dilser, piloto, jornalista e gerente de comunicação no FCA Group, que reúne marcas como Fiat e Chrysler. Confira a seguir!

Combustível Legal: Afinal, a nova norma da ANP, de densidade mínima da gasolina, vai melhorar o rendimento dos motores?

Ricardo Dilser: Todo melhoramento de especificações de combustível é bem-vindo. Mas toda mudança passa por um período de transição, na qual são requeridas novas avaliações dos motores já desenvolvidos para outra especificação de combustível. O objetivo é determinar os impactos em durabilidade, performance, qualidade de partida, dirigibilidade, consumo de combustível. A partir da análise desses impactos em cada projeto do motor, é verificada se a calibração do motor está otimizada para obter o melhor rendimento com a nova especificação de combustível.

Outro fato importante é entender a nova faixa de variação de especificação de combustível praticada nas bombas de postos durante a transição da norma, pois devemos ter o cuidado de garantir durabilidade e condições de funcionamento também na velha especificação, enquanto estiver disponível ao consumidor. A nova norma garante um limite mínimo da densidade da gasolina de 715 g/l, o que antes não era normatizado, podendo haver no mercado uma densidade muito baixa, que não era considerada adulteração. Também a octanagem mínima da gasolina passa a ser 93 RON (nova resolução 807/2020 da ANP), e o mínimo permitido era, anteriormente, 92RON. A nova resolução da ANP especifica uma qualidade mínima da gasolina brasileira.

Combustível Legal: Sabemos que no Brasil, as montadoras trafegam em uma sinuca de bico ao definir parâmetros de motores, com as variações regionais e adulteração. Como vai ficar essa equação agora?

Ricardo Dilser: As montadoras de automóveis conhecem profundamente os parâmetros de projeto de seus produtos. Mas a equação não é única para todos eles. Existem motores de alta performance, modernos, mas com diferentes taxas de compressão; diferentes pacotes de tecnologia de hardware; e diferentes materiais, sistemas de controle de injeção e especificações de óleo lubrificante, etc. Por isso, a capacidade de suportar a variação de especificação de combustível, e ganho de rendimento a partir dela, precisa ser equacionada e avaliada por projeto de motor.

Combustível Legal: Temos hoje motores mais “finos”, com ligas leves, baixo atrito e alto rendimento. O que muda para este tipo de tecnologia com a nova norma de densidade mínima da gasolina?

Ricardo Dilser: São mais “finos”, com ligas leves de materiais mais nobres, mas não menos robustos, pois temos padrões internacionais de desenvolvimento de motores capazes de prever condições severas de uso, inclusive de “bad fuel”, garantindo um padrão de durabilidade e funcionamento.

Combustível Legal: Nos testes pré-lançamento, quando se trata de combustíveis, que tipo de dificuldades vocês mais encontram?

Ricardo Dilser: Com certeza, a adulteração requer sistemas/softwares de proteção avançados para sua detecção pela central de injeção e, em segundo lugar, a variação de especificação entre o combustível padrão de homologação e o praticado no mercado, pois temos que ter bom funcionamento com a faixa de especificação usual.

Combustível Legal: Cite, por favor, as adulterações mais comuns percebidas nas avaliações da FCA.

Ricardo Dilser: Em geral, encontramos na gasolina um percentual de álcool elevado. No caso do etanol, verificamos quantidade de água acima do especificado.

Combustível Legal: No seu desenvolvimento, vocês usam combustíveis padrão, mas na corrida piloto (fase pré-lançamento, na qual os carros enfrentam, por longas quilometragens, condições de rodagem em cidades e estradas), a situação em rodagem pode ser diferente?

Ricardo Dilser: Como já respondido anteriormente, o padrão de desenvolvimento da FCA abrange desde a faixa de especificação padrão à avaliação de comportamento dos produtos com “bad fuels” conhecidos no mercado. As corridas piloto, e todo o acompanhamento posterior e pela vida útil do veículo, prevemos bad fuel em nossos testes.

Combustível Legal: No que se refere ao combustível, existe uma troca de informações permanente entre as fabricantes e as distribuidoras tradicionais? 

Ricardo Dilser: Existe uma relação em fóruns técnicos promovidos por associações como a Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA) e Society of Automotive Engineers (SAE), na qual montadoras e distribuidoras de combustível e lubrificantes participam, trocando informações e experiências, além dos contatos comerciais normais.

Combustível Legal: O etanol é um combustível mais puro, de base renovável. Vocês pensam em motores exclusivos para etanol, com maior eficiência em valores de consumo?

Ricardo Dilser: Todo motor desenvolvido exclusivamente para um único combustível tem condição de obter melhores resultados para esse combustível. Mas a voz do mercado é primordial e o mercado brasileiro requer o motor flex na grande maioria de seus consumidores. Atendemos a essa demanda com o máximo de tecnologia possível.

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